Charlotte Street
Danny Wallace
Editora Novo Conceito
400 páginas
"Tudo começa com uma garota... (porque sim, sempre há uma garota...) Jason Priestley acabou de vê-la. Eles partilharam de um momento incrível e rápido de profunda possibilidade, em algum lugar da Charlotte Street. E então, em um piscar de olhos, ela partiu deixando-o, acidentalmente, segurando sua câmera descartável, com o filme de fotos completo... E agora Jason - ex-professor, ex-namorado, escritor e herói relutante - se depara com um dilema. Deveria tentar seguir A Garota? E se ela for A garota? Mas aquilo significaria utilizar suas únicas pistas, que estão ainda intocáveis em seu poder... É engraçado como as coisas algumas situações se desenrolam..."
Charlotte pra mim é um livro difícil de resenhar. Por que é um livro feito de preciosidade, é uma coisa linda, um amor, uma esperança, uma coisa que vem assim por baixo da pele e te arrebata. Mas não é um grande livro contando uma grande história. Acho que é mais como ele é contado, como o protagonista vê as coisas, como foi escrito, como é montado, frase a frase, pensamento a pensamento. Tudo isso faz do livro amor e encheu meu coração de felicidade, página sim, página também.
Jason Priestley é um cara meio infeliz. Ele era professor numa escola pública quando um aluno descontrolado trouxe uma arma para escola e tentou matar as pessoas. Ele estava lá e ele sentiu tudo e isso, de algum modo, tirou ele do chão e levou embora todos os seus planos e certezas. Depois tudo desandou e ele se separou da namorada, largou o emprego, se afastou dos amigos e, de algum modo, acabou meio sem nada, com saudades do que já tinha tido, sem futuro visível, sem a mulher que amava, dividindo apartamento com um amigo estranho e trabalhando numa lojinha de videogames e como freelancer num jornal de metrô de Londres. Não é grande coisa, mas é o que ele tem agora, e sua desesperança e sua normalidade são fáceis de relacionar com a nossa, de simpatizar.
Ele encontra, por acaso, uma garota bonita na Charlotte Street. Ao ajudá-la a entrar no táxi, acaba ficando com sua câmera descartável. Por algum motivo ele fica encantado com a estranha. Ele imagina mil e uma histórias, imagina como ela é, imagina como ela pode ser A Garota dos seus sonhos. Quem nunca viu um estranho na rua, deu a ele uma voz e uma história e imaginou todo um mundo pra ele?
O livro é, eu admito, parado. Ele se desenvolve devagar e as coisas são mesmo provavelmente impossíveis, mas os pensamentos de Jason, que é quem conta a história pra você, está cheio de tiradas engraçadas e de ironias, e as vezes fica meio assustador e você se pega pensando "Hey Jason, você está obcecado e virou um stalker!" mas é tão bem escrito e bem feito que as palavras simplesmente não deixam você colocar o livro de lado. Eu, pelo menos, fui movida por uma curiosidade sem tamanho, querendo saber se Jason ia dar jeito na vida, se ia encontrar A Garota, se ia ser alguém importante, se ia conseguir chegar tão longe quanto sonhava. Ou não. A verdade é que Jason é um personagem meio perdido, e se identificar com ele é muito fácil
Enfim, o livro tá mais que recomendado se você gosta de um romance, de uma história bonita, de uma coisa mais pacifica, mais parada. O grande mistério do livro é quem é a garota, o que eram suas fotos pra ela e se Jason vai, de fato, encontrá-la. Mas não é exatamente sobre isso que é a história. Essa é meio que a desculpa pra desenvolvê-la. Charlotte Street é a história do crescimento de um homem que não acreditava na esperança. É sobre voltar a viver, é sobre aprender, sobre ver beleza em coisas estranhas e aproveitar as pequenas e sonhar e "fazer acontecer". É um livro cheio de mensagens positivas correndo por baixo das palavras. É lindo e eu me apaixonei e recomendo sim. E espero que você também goste.
Beijo, beijo,
Thai Caldas.
"Você tem doze fotos - ele disse.- Doze momentos para capturar. É limitado. Então, toda vez que você captura um naquela caixinha, você tem um a menos. Mas, na hora que você tira a ultima foto, é melhor ter certeza de que aquele momento é especial, pois e se o próximo vier e você tiver que deixá-lo ir?"