Mostrando postagens com marcador Histórico. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Histórico. Mostrar todas as postagens

Era uma vez, há muito tempo atrás... - Brigid Pasulka

22 de outubro de 2013

Era uma vez, há muito tempo atrás... 
Brigid Pasulka
Editora Nova Fronteira
361 páginas 
2010


Eu tenho uma história com esse livro. Ele não é desses que eu peguei em uma promoção e resolvi ler do nada ou um desses que eu recebo de cortesia. Novembro ou dezembro de 2010, eu estava em alguma livraria (provavelmente a Saraiva) e vi essa capa na prateleira. Essa é uma capa que me faz parar qualquer coisa só de vê-la no cantinho do olho. Então, eu parei. Li a sinopse. Descubri que a história se passa na Polônia (adoro conhecer novos lugares através dos livros enquanto não pessoalmente), em dois momentos. Um um pouco antes da 2ª Guerra Mundial e outro 50 anos depois disso. Anos 1930/40 e 1980/90. Mas não o comprei.

Estar no meio de tantos livros famosos, com muita muita divulgação, com muitos fãs, muitas resenhas por aí, pode bem fazer a gente perder a coragem de comprar e ler um livro do qual nunca ouvimos falar, que ninguém nunca te indicou. Então, eu não o comprei. Quase três anos depois, o pedi de troca no skoob. Logo que o livro chegou, tão lindo, já comecei a lê-lo. Não me arrependo de ter demorado tanto para tê-lo. Esse ano a Polônia apareceu na minha vida de maneira completamente inesperada, então o livro veio na hora perfeita, para falar a verdade.

Um rapaz conhecido como Pombo vê a belíssima Anielica conversando com seu irmão Jakub que é, de alguma forma, especial, descrito como um tolo meigo, e fica impressionado com a beleza da jovem. Assim como qualquer outro homem. Porém, Pombo não é de ficar parado e, ao invés de ficar apenas suspirando, ou mesmo chegar de mãos vazias até o pai de Anielica, ele resolve oferecer suas złote rączki, mãos de ouro (todo polonês as possui e é famoso por elas) para reformar inteiramente de graça a casa da família Hetmański. O pai de Anielica, Pan Hetmański (Pan/Pani significam Senhor/Senhora em polonês, só que é muito usado mesmo), que não é bobo nem nada, soube logo de cara que o que Pombo queria era se aproximar de Anielica. Mas, mesmo correndo o risco de ter um homem no quintal de olho na sua jovem filha, ele não iria desperdiçar a oportunidade de ter sua casa reformada de graça.  

O irmão de Anielica, Władysław Jagiełło, vai ajudar Pombo nas obras e eles acabam se tornando grandes amigos com o passar do tempo. O romance de Pombo e Anielica, por sua vez, parece nada mais que nenhum romance para quem não tem acesso ao coração ou à mente de algum dos dois. Há até quem diga que, na verdade, Pombo sempre esteve interessado em Władysław Jagiełło. Mas essa não é a verdade. Ele está apenas esperando a hora certa.

Cinquenta anos mais tarde, Beata, mais conhecida como Baba Yaga ("bruxa" do folclore polonês) é a protagonista. Assim como Anielica e Pombo, Baba Yaga vivia na Meia-Aldeia, porém se muda para a Cracóvia e vai morar com suas primas. Ela não é dessas pessoas que vive intensamente, Baba Yaga tende a simplesmente ir vivendo, mesmo que não seja isso o que ela deseje.

As duas Polônias são bem diferentes, tendo passado muita coisa no meio tempo que as separa. Guerras, ocupações, invasões, reconstruções (estruturais e culturais) são coisas comuns na história polonesa. E, além do romance lindo, da história tristíssima e emocionante, das intervenções muito engraçadas do narrador, Era uma vez, há muito tempo atrás... é cheio de cultura e história polonesa. E não é do tipo que você se vê perdida e desinteressada, não, por favor, não, é do tipo que te prende, te deixa curiosa e já apaixonada pela Polônia.

O livro é cheio de palavras polonesas que no contexto dá para você entender o significado, e lugares, e expressões e manias. Hoje eu sinto como se eu conhecesse um pouquinho mais do país. E tenho um carinho especial pelo povo que Brigid Pasulka mostra ser tão corajoso.

Eu preciso, de alguma forma, te convencer a ler esse livro, mas não sei como posso fazer isso. Se você puder apenas acreditar quando eu digo que esse é livro é muito muito muito bom, será excelente. Escrever essa resenha me fez ter vontade de reler o livro que eu li há duas semanas e de chorar só de pensar na história que tem dentro dele. Ele me fez gargalhar, chorar, arregalar os olhos, fechar os olhos e pedir para que o que eu achava que fosse acontecer não acontecesse. O jeito como a história é contada, além da história em si, é algo difícil de se descrever, que só lendo por si mesmo, você poderia entender. Então, por favor, faça isso. E depois me procura para dizer como foi.

O Discurso Secreto - Tom Rob Smith

5 de junho de 2011

 
O Discurso Secreto - Tom Rob Smith
Record - 433 páginas
Onde Comprar : Travessa - Saraiva - Cultura


  Pra quem não sabe, o meu gênero preferido, de longe, é romance histórico. Quando eu pego um livro e ele tem como pano de fundo as Grandes Guerras, os facismos, a Guerra Fria ou a Era Vitoriana (tudo a ver com os outros assuntos) eu automaticamente o coloco na minha lista de leitura. E, muito provavelmente, ele se tornará um dos meus favoritos. E foi assim que eu conheci Tom Rob Smith e seus maravilhosos Criança 44 e O Discurso Secreto.

  Eles não são muito conhecidos, então explicarei. Ambos se passam na Rússia stalinista e tem como protagonista Liev, agente de Estado. O Discurso Secreto é continuação (ou não) de Criança 44 (resenhado aqui). São os mesmos personagens, se você ler Criança 44 antes, você o entende melhor. Mas é complemente possível ler esse sem ter lido o primeiro e entender tudo. Tanto que essa resenha não vai conter nenhum spoiler, certo ?

  Esse livro se passa pós Criança 44, em 1956. Stalin já está morto e seu sucessor é Nikita Kruschov. Liev e sua esposa, Raíssa, aprenderam muito com os erros de Stalin e, nesse novo livro, adotaram duas irmãs, cujos pais foram mortos por ordem de Liev. Suas filhas, Zoia e Elena, são muito diferentes. Por ser mais velha, Zoia tem muito mais lembranças e, por isso, não é capaz de perdoar ou ser feliz com seus novos pais. Só continua morando com eles por causa de sua irmãzinha. Em meio a isso, um discurso de Kruschov é liberado, porém não a todos, no qual ele condena as ações e horrores do período stalinista. Aqueles que sofreram com ela começam a ver os agentes e servidores do Estado como eles devem ser vistos : assassinos. Está na hora de Liev pagar pelos seus erros. 

  A escrita de Tom Rob Smith é, para mim, o ponto alto desse livro. O modo com ele descreve os horrores do período te deixam sem palavras ou reação. Os ocorridos são muito piores que imaginamos e ele os descreve sem escrúpulos ou eufemismos. Mais que isso, descreve os sentimentos de todos frente aos problemas de uma maneira inigualável. Os personagens podem agir como monstros, muitas vezes. Mas somos capaz de ver, por trás de suas ações, seus motivos e razões para tudo. É cada um por si. Nada é errado para salvar sua própria pele.

  Enquanto em Criança 44 vemos a violência extrema cometida pelos agentes do Estado, em O Discurso Secreto vemos os movimentos revolucionários, anti-stalinistas, como foco principal. Antes, Liev era o agressor, enquanto nesse ele é a "vítima". Por muitas vezes, me perguntei se é correto cometer os mesmos erros que alguém para faze-los pagar pelos seus próprios. Torturar alguém que te torturou, matar a família de quem matou sua família. Devemos combater o ódio com amor, ou nos deixar levar pela sensação de vitória que a vingança te proporciona ? Mais do que uma super aula de história, esse livro fala muito da natureza humana.

   As cenas de ação continuam incríveis, mas achei que ficaram um pouco irreais ou exageradas no final do livro. Na verdade, é impossível não comparar, e eu achei esse livro inferior ao primeiro. Acho que o autor viu o quão incrível ele ficou e apostou em escrever uma sequencia. Só que essa nunca foi a sua ideia inicial. A história de Raíssa e Liev poderia ter terminado do jeito que estava e ele ter escrito algom com novos personagens. Outro problema foi a Zoia. Eu sei o quanto ela sofreu, mas ela foi a única que eu não simpatizei, nem um pouco. Na verdade, tinha até muita raiva dela. Eu sentia que ela era muito egoísta, fechada. Talvez por isso tenha achado que ele se perdeu um pouco nesse livro (personagens me irritam de verdade).

   Enfim, leiam os dois. Minha vontade ao falar desse livro é fazer com que o mundo conheça o Tom Rob Smith e se apaixone por ele e por Liev assim como eu. Poucos autores tem a capacidade de te perturbar tanto com palavras como ele (mas no bom sentido, viu?). Para mim, um dos autores mais talentosos que eu já li e, mais que isso, nunca vi ninguém que lesse e criticasse sua escrita. Talvez ele tenha errado um pouco ao continuar a receita de Criança 44, mas tudo bem. Ele é novo, só escreveu esses dois livros. E tem mais vindo por aí. Eu, obviamente, lerei e recomendarei.

beeeeijos,
Julia
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Layout por Thainá Caldas | No ar desde 2010 | All Rights Reserved ©