Era uma vez, há muito tempo atrás...
Brigid Pasulka
Editora Nova Fronteira
361 páginas
2010
Eu tenho uma história com esse livro. Ele não é desses que eu peguei em uma promoção e resolvi ler do nada ou um desses que eu recebo de cortesia. Novembro ou dezembro de 2010, eu estava em alguma livraria (provavelmente a Saraiva) e vi essa capa na prateleira. Essa é uma capa que me faz parar qualquer coisa só de vê-la no cantinho do olho. Então, eu parei. Li a sinopse. Descubri que a história se passa na Polônia (adoro conhecer novos lugares através dos livros enquanto não pessoalmente), em dois momentos. Um um pouco antes da 2ª Guerra Mundial e outro 50 anos depois disso. Anos 1930/40 e 1980/90. Mas não o comprei.
Estar no meio de tantos livros famosos, com muita muita divulgação, com muitos fãs, muitas resenhas por aí, pode bem fazer a gente perder a coragem de comprar e ler um livro do qual nunca ouvimos falar, que ninguém nunca te indicou. Então, eu não o comprei. Quase três anos depois, o pedi de troca no skoob. Logo que o livro chegou, tão lindo, já comecei a lê-lo. Não me arrependo de ter demorado tanto para tê-lo. Esse ano a Polônia apareceu na minha vida de maneira completamente inesperada, então o livro veio na hora perfeita, para falar a verdade.
Um rapaz conhecido como Pombo vê a belíssima Anielica conversando com seu irmão Jakub que é, de alguma forma, especial, descrito como um tolo meigo, e fica impressionado com a beleza da jovem. Assim como qualquer outro homem. Porém, Pombo não é de ficar parado e, ao invés de ficar apenas suspirando, ou mesmo chegar de mãos vazias até o pai de Anielica, ele resolve oferecer suas złote rączki, mãos de ouro (todo polonês as possui e é famoso por elas) para reformar inteiramente de graça a casa da família Hetmański. O pai de Anielica, Pan Hetmański (Pan/Pani significam Senhor/Senhora em polonês, só que é muito usado mesmo), que não é bobo nem nada, soube logo de cara que o que Pombo queria era se aproximar de Anielica. Mas, mesmo correndo o risco de ter um homem no quintal de olho na sua jovem filha, ele não iria desperdiçar a oportunidade de ter sua casa reformada de graça.
O irmão de Anielica, Władysław Jagiełło, vai ajudar Pombo nas obras e eles acabam se tornando grandes amigos com o passar do tempo. O romance de Pombo e Anielica, por sua vez, parece nada mais que nenhum romance para quem não tem acesso ao coração ou à mente de algum dos dois. Há até quem diga que, na verdade, Pombo sempre esteve interessado em Władysław Jagiełło. Mas essa não é a verdade. Ele está apenas esperando a hora certa.
Cinquenta anos mais tarde, Beata, mais conhecida como Baba Yaga ("bruxa" do folclore polonês) é a protagonista. Assim como Anielica e Pombo, Baba Yaga vivia na Meia-Aldeia, porém se muda para a Cracóvia e vai morar com suas primas. Ela não é dessas pessoas que vive intensamente, Baba Yaga tende a simplesmente ir vivendo, mesmo que não seja isso o que ela deseje.
As duas Polônias são bem diferentes, tendo passado muita coisa no meio tempo que as separa. Guerras, ocupações, invasões, reconstruções (estruturais e culturais) são coisas comuns na história polonesa. E, além do romance lindo, da história tristíssima e emocionante, das intervenções muito engraçadas do narrador, Era uma vez, há muito tempo atrás... é cheio de cultura e história polonesa. E não é do tipo que você se vê perdida e desinteressada, não, por favor, não, é do tipo que te prende, te deixa curiosa e já apaixonada pela Polônia.
O livro é cheio de palavras polonesas que no contexto dá para você entender o significado, e lugares, e expressões e manias. Hoje eu sinto como se eu conhecesse um pouquinho mais do país. E tenho um carinho especial pelo povo que Brigid Pasulka mostra ser tão corajoso.
Eu preciso, de alguma forma, te convencer a ler esse livro, mas não sei como posso fazer isso. Se você puder apenas acreditar quando eu digo que esse é livro é muito muito muito bom, será excelente. Escrever essa resenha me fez ter vontade de reler o livro que eu li há duas semanas e de chorar só de pensar na história que tem dentro dele. Ele me fez gargalhar, chorar, arregalar os olhos, fechar os olhos e pedir para que o que eu achava que fosse acontecer não acontecesse. O jeito como a história é contada, além da história em si, é algo difícil de se descrever, que só lendo por si mesmo, você poderia entender. Então, por favor, faça isso. E depois me procura para dizer como foi.