O Projeto Rosie - Graeme Simsion

9 de outubro de 2013


 

O Projeto Rosie
The Rosie Project
Grame Simsion 
Editora Record
320 Páginas
2013

Ganhei o Projeto Rosie de presente de aniversário quando fui a bienal do livro esse ano. Eu estava muito animada pra ler este (pra quem não lembra, ele era número 1 na minha wishlist de aniversário), mas acabei lendo outros livros primeiro por que eram menores e eu estava no processo de carregar eles pra casa de um em um (então eu meio que precisava que desse pra ler tudo em uma viagem de ônibus).

Projeto Rosie conta a história de Don Tillman, um homem... especial. Professor associado de genética numa faculdade prestigiada, ele vive sua vida de acordo com regras muito rígidas: tem um dieta especifica pra cada dia da semana, uma programação acirrada como rotina e pouquíssimos amigos. Todas as suas decisões são completamente racionais e seguem princípios morais e lógicos. Mas esse estilo de vida não cobre seu principal problema: por causa de sua inaptidão social, ele não consegue encontrar uma parceira adequada. Tentando resolver a questão, ele cria o Projeto Esposa: um questionário de avaliação meticuloso para encontrar a sua parceira ideal. Como se isso já não fosse receita pra todo tipo de confusão e situação estranha, as coisas saem ainda mais de seu controle quando ele conhece Rosie, uma mulher completamente inadequada que precisa de sua ajuda e a quem ele não consegue resistir.

Projeto Rosie é um romance e um Lad-lit, (contado a partir de um ponto de vista masculino) e eu gosto muito do estilo. Quando comecei, estava muito empolgada, e apaixonada pelo modo como a coisa se desenvolvia e pelo ritmo da leitura. O próprio protagonista é um personagem cativante e com características muito peculiares e, para mim, bastante óbvias: Don, apesar de nãos se identificar como tal, é claramente autista. Já falei um pouco sobre o tema por aqui, mas, em linhas gerais, a coisa é a seguinte: tenho um irmão autista de 8 anos e sei bastante sobre a coisa. Gostei de ver o livro tratando Don como uma pessoa normal, só que com algumas manias de vida por conta de como se organiza seu pensamento. Como personagem autista, como pessoa autista, a única coisa que fazia dele diferente de mim, de você ou de Rosie, era sua maneira de ver o mundo. Ele é extremamente lógico, talvez até um pouco anti-social. A gente sente o mundo diferente.

Isso dito, gostei bastante do livro até mais ou menos a metade, quando Rosie vai ferrando mudando completamente a vida de Don. Ele vai largando algumas de suas manias, vai deixando de lado algumas de suas regras sagradas, vai descobrindo novas coisas. Até então, apenas amor e romance. Mas aí chegamos ao problema que, para mim, estragou consideravelmente a experiencia de Projeto Rosie: Don foi posicionado como um homem errado e que devia ser mudado (!!). Como personagem autista, ele tinha suas limitações, mesmo. Mas o que o livro foi mostrando, de modo meio estranho, meio distorcido, era que ele que tinha que se adaptar aos caprichos e desejos que os outros tinham pra ele. Claro que, um ajuste ou outro não faria mal (e não fizeram mesmo). Mas o livro teve a pachorra de mostrar pra mim que ele era "inconsertável" e que era por culpa dele mesmo que ele não conseguia se relacionar com as pessoas "normais". Rosie em momento nenhum aparece como errada por não se dispor a aceitá-lo como ele é. Em nenhum momento, até o final (só Claudia salva, Cláudia, eu te amo).

Então, fiquei meio assim com Projeto Rosie. Não sei se recomendo. É claro que estamos dentro da cabeça de Don o tempo todo e essas falhas de posicionamento podem ter sido propositais, pra mostrar que ele, assim como todo mundo, tentou mudar por amor. Mas me incomodou, e muito, o modo como isso foi feito.  Como se ele não tivesse jeito. Fiquei sentida por, na primeira vez que tenho a oportunidade de ler um livro com um personagem autista, essa seja a mensagem que estão tentando passar. Pra quem já leu, fica meu pedido: gostaria de saber o que acharam desse ponto específico. O livro ainda é divertido e o romance ainda é bonitinho, mas... achei a fonte da diversão meio torpe. Achei meio preconceituoso bobinho.

Então, era isso. Dá série não sei se gostei, da série "fiquei ofendida, deleta".

Beijo, beijo,

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